RESUMO
Ao falar sobre a psicomotricidade na educação,
logo imaginamos nas aulas de educação física, nas atividades recreativas
envolvendo os movimentos, nos jogos e nas brincadeiras lúdicas e, assim
pensamos que toda atividade psicomotora se baseia apenas nisso. No entanto,
vários estudiosos e pesquisadores revelam a eficácia da psicomotricidade no
processo ensino-aprendizagem. O desenvolvimento do esquema corporal, da
estrutura espacial, da orientação temporal, a lateralidade e a pré-escrita são
os elementos básicos fornecido pelo ensino psicomotor. O trabalho apresentado
valoriza as atividades da psicomotricidade como auxílio no processo da
aprendizagem, pois sem essa ajuda os alunos teriam sérias dificuldades na
aquisição da leitura, da escrita, na socialização, na expressão e nos diversos
outros aspectos do desenvolvimento.
Introdução
Segundo o site da
Associação Brasileira de Psicomotricidade:
Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de
estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo
interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a
origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (ABP, 2011)
Atividades pedagógicas
relacionadas com o movimento e a parte física do corpo, já fazem parte das
disciplinas obrigatórias da educação básica e envolve a educação infantil, o
ensino fundamental e até o ensino médio. Toda atividade física, além de
melhorar o condicionamento corporal, educa a mente, melhora a saúde e desenvolve
aptidões.
O trabalho realizado procurou
demonstrar que a psicomotricidade, incorporada na disciplina de Educação Física
ou no Movimento, vai muito além da educação com o corpo, da lateralidade, da
estrutura espacial ou esquema corporal.
Costa (2002) afirma que:
A psicomotricidade baseia-se em uma concepção
unificada da pessoa, que inclui as interações cognitivas, sensoriomotoras e
psíquicas na compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do
movimento, em um contexto psicossocial. Ela se constitui por um conjunto de
conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que
permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o
intento de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos
objetos e outros sujeitos. (COSTA, 2002, p. 38)
A psicomotricidade é capaz
de desenvolver no aluno o psíquico, o equilíbrio, o emocional, a cognição, a
afetividade, a socialização, a inteligência, as relações interpessoais e
intrapessoais, a criatividade e diversas outras capacidades e habilidades.
A colaboração das
atividades psicomotoras na educação é enriquecedora e contribui no processo
ensino-aprendizagem em conjunto com as outras disciplinas e as variadas formas
de ensinar e aprender.
O processo ensino-aprendizagem
acontece de várias maneiras. Por meio da experiência, da exploração e
observação que o estudante aprende, modifica seu pensamento, interpreta e busca
soluções de problemas. O papel do adulto educador é favorecer e enriquecer as
situações e os momentos para promover o aprendizado.
Para que isso ocorra, é
importante ofertar conteúdos e atividades que envolvam: diferentes gêneros
textuais orais e escritos; diversas linguagens e formas de expressão como:
musical, plástica, verbal, gestual e dramática, a arte, o cinema, o teatro, a
poesia, a literatura, a fotografia e diversos outros incentivos para a
exploração do meio e o cultivo da curiosidade. Também é necessário conteúdos
que envolvam os cálculos, raciocínio e a matemática, estudos geométricos,
geográficos, a história, as ciências biológicas, o movimento e a educação
física.
Diferentes pensadores e
autores acreditam que quando há deficiência no desenvolvimento psicomotor, o
aluno apresenta sérias dificuldades na fala, na expressão, na interpretação, na
leitura, na escrita, nos cálculos matemáticos, no desenvolvimento crítico e
criativo, no psíquico, afetivo e até no físico.
Para Vayer (1986), a
educação da psicomotricidade também é uma ação pedagógica e psicológica, pois
utiliza os meios da educação física com a finalidade de normalizar ou melhorar
o comportamento da criança. Dessa forma, os alunos se desenvolvem com muita
mais eficiência e rapidez quando associado as atividades psicomotoras às demais
disciplinas.
O trabalho foi baseado
teoricamente nos pensadores: Gonçalves
(1983), Costa (2002), Vayer (1986), Cabral (2001), Wallon (1979), Jean Piaget
(1982), Ferronato (2006), Dupré (1909), Le Boulch (1984), Costallat (2002),
Fonseca (2008), Gonçalves (1983), Referenciais Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (1998) e a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2011).
Desenvolvimento
A Psicomotricidade surgiu
na França, no final do século XIX e foi definida como uma ciência que atua na
educação, na clínica e na reeducação. Nesse período foram realizados pesquisas
e estudos voltados à área neurológica, focalizando as patologias corticais.
Nessa época podemos
destacar o neurologista Dupré (1909) que denominou o desequilíbrio motor de
“debilidade motora”. Já o médico psiquiatra Henri Wallon (1925) relacionou o
movimento do corpo ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da
criança. Edouard Guilmain (1930) cria o termo “reeducação psocomotora”. J.
Ajuriaguerra e R. Diatkine (1947) redefinem o conceito de “debilidade motora” para
uma “síndrome”. Apenas no ano de 1970 com os psicomotricista André Lapierre e
Bernard Auconturier será definida como a “Psicomotricidade Relacional”.
Nesse momento, as teorias
de Jean Piaget (1982) e as ideias psicomotoras de diferentes autores, liderado
por Wallon (1925), que valorizava o esquema corporal, vão influenciar e
repensar o significado da educação psicomotora. A ideia do desenvolvimento
global da criança passa a ter predominância. Nesse período então, os
psicomotricistas iniciam sua pratica, buscando relações com as instituições
escolares.
Segundo Cabral (2001), no
Brasil a partir da década de 1950 a psicomotricidade tem sido tema de estudos e
de pesquisa e foi introduzida nas escolas especiais como apoio e instrumento
para corrigir as dificuldades psicomotoras das crianças com deficiência.
Ainda de acordo com
Cabral, foi na década de 1970 que na França, como também no Brasil, a
psicomotricidade passa da “perspectiva de reeducação psicomotora” para uma
“educação psicomotora”, pensando no indivíduo não parcialmente, mas em sua
totalidade.
Ferronato (2006) afirma
que:
A psicomotricidade é fundamental para as aprendizagens
escolares, uma vez que se configura em um suporte para alcançar aprendizagens
mais elaboradas no plano cognitivo e no processo de alfabetização. O seu
conhecimento auxilia e capacita o aluno para uma melhor assimilação das
aprendizagens escolares. (FERRONATO, 2006, p. 12).
A Psicomotricidade como
área do conhecimento do corpo em movimento, é de fundamental importância para
desenvolver o ser humano em sua totalidade e contribuir nas expressões
cognitivas, intelectuais, psíquicas, afetivas e emocionais.
Toda atividade que envolve
a psicomotricidade proporciona ao participante prazer em manipular os objetos,
bem-estar, interatividade, cooperação, autoestima, criatividade e
contentamento.
Le Boulch (1984)
acreditava que a educação psicomotora deveria ser considerada como uma educação
de base na escola e ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares.
Costallat (2002) afirma
que:
O trabalho psicomotor privilegia o ato físico, mas
leva-o ao trabalho mental, no qual se aprende a escutar, interpretar, imaginar,
organizar, representar, passar da ideia ao ato, do abstrato ao concreto, bases
imprescindíveis da aprendizagem formal. (COSTALLAT, 2002, p. 40)
A psicomotricidade
possibilita aos estudantes uma infinidade de vivências concretas. Quando falta
aos estudantes o desenvolvimento motor, ou quando não é bem trabalhado no
ensino escolar, poderá apresentar no futuro, problemas na escrita, na
gramática, na leitura, na ordenação de sílabas, na distinção de letras e até no
pensamento abstrato.
As atividades
desenvolvidas na psicomotricidade oportuniza nos estudantes condições de
desenvolver capacidades básicas relacionado ao intelecto, motor, cognitivo,
afetivo, social e emocional.
As experiências
vivenciadas por meio dos jogos e das brincadeiras voltadas ao esquema corporal,
de lateralidade, estrutura espacial e orientação temporal reforçam a maturação
orgânica progressiva e capacita os alunos a se desenvolverem integralmente em
todos os seus aspectos.
De acordo com Fonseca
(1998), Wallon afirma que:
[...] o movimento não é um puro deslocamento no espaço
nem uma adição pura e simples de contradições musculares: o movimento tem um
significado de relação e de interação afetiva com o mundo exterior, pois é a
expressão material, concreta e corporal de uma dialética e subjetivo-afetivo
que projeta a criança no contexto da sociogênese (FONSECA, 2008, p. 17).
Essa “relação e interação
com o mundo exterior” pelas atividades psicomotoras possibilita as diferentes
aprendizagens, pois, “ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções
e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e
posturas corporais” (RCNEI, 1998, p.15).
Segundo Gonçalves (1983),
O movimento, na sua ação, manifesta a sua
exteriorização significativa dos desejos e das aquisições do indivíduo, pois
traduz o corpo vivido, o conhecimento concreto experimentado pelo sujeito. A
originalidade peculiar do movimento não o caracteriza como mecanismo psíquico
ou filosófico, como consciente ou inconsciente; ele traduz e projeta no mundo a
ação relativa a um sujeito (GONÇALVES, 1983, p. 27).
Para Gonçalves o movimento
demonstra tudo aquilo que o aluno carrega consigo, suas aspirações mais profundas,
desejos, vontades, sonhos, frustrações, medos, traumas, complexos, realizações.
Mas também através do movimento o sujeito é capaz de compreender o mundo, seus
ensinamentos, suas aprendizagens para dentro de si e por meio desse processo
ser capaz de aprender, compreender, desenvolver-se, ter habilidades e
competências necessárias para atuar na sociedade e no mundo ao seu redor.
Gonçalves (1983) também
afirma que,
É Por meio da atividade motora que a criança vai
construindo um mundo mental cada vez mais complexo, não apenas em conteúdo, mas
também em estrutura. O mundo mental da criança, devido às ações e interações
com o mundo natural e social, acaba por apresentar essas realidades por meio de
sensações e imagens dentro de seu corpo e de seu cérebro. Primeiro por
intervenção de outras pessoas, que atuam como mediadoras entre as crianças e o
mundo; depois pelos sucessos e insucessos da sua ação, ela vai adquirindo
experiências que virão a ser determinantes no seu desenvolvimento psicológico
futuro (GONÇALVES, 1983, p. 27).
Dessa forma, toda
atividade psicomotora, quando bem trabalhada com as crianças promove a
aprendizagem. O educador, como mediador, com seu trabalho, esforço e empenho
facilita o processo ensino-aprendizagem pelo movimento. Atividades bem
elaboradas com objetivos, metodologias e uma boa didática possibilita um
aprender e ensinar com criatividade, dinamismo, participação, recreação e
principalmente com alegria e entusiasmo tanto da parte dos alunos quanto dos
educadores.
A psicomotricidade na
educação básica favorece integralmente o processo de ensino-aprendizagem do
aluno em sua totalidade. A contribuição do movimento vai mundo além do corpo,
como já verificamos. Colabora no desenvolvimento do psíquico, do intelecto, no
afetivo, no social, na desenvoltura do corpo (na sua lateralidade, orientação
corporal e estrutura espacial). Os estudantes dificilmente apresentarão
dificuldades na alfabetização, na escrita, na leitura, nos cálculos matemáticos
e nas demais aprendizagens.
Conclusão
O trabalho apresentado
valorizou o ensino do movimento como forma de favorecimento ao processo
ensino-aprendizagem. O ato de aprender e se desenvolver intelectualmente
envolve a maturação, aquilo que a criança já tem aprendido e também os
ensinamentos proporcionados pelo meio.
Este último envolve os
conhecimentos da linguagem e da escrita, das ciências, da geografia, da natureza
e sociedade, da história, da matemática, das artes, da música, do teatro, do
cinema e muitos outros conhecimentos oferecidos pelo ensino regular. Pela
educação física ou o movimento, é oferecido aos alunos a psicomotricidade e
mais do que a educação do corpo é o ensino total e completo do indivíduo.
Sem a formação do
movimento a criança não é capaz de adquirir os demais ensinamentos. Apresentará
dificuldades motoras, na fala, na dicção, na interpretação, na leitura, nos
cálculos matemáticos, na interação com o outro, até mesmo na socialização com o
meio em que vive. Essas lacunas acarretará problemas psíquicos, na autoestima, na
sua intelectualidade e no convívio social.
Sabemos que hoje os
educadores preocupados em fazer as crianças lerem e escreverem o quanto antes,
acabam deixando de lado as atividades como pular, correr, saltar, jogos e
brincadeiras que envolvem superações corporais e aptidões físicas. E
infelizmente acabam errando, pois sem compreenderem a importância do
desenvolvimento psicomotor impedem que os alunos se desenvolvam com mais
rapidez pelas atividades motoras.
O trabalho de conclusão de
curso, com a utilização bibliográfica de alguns autores e pensadores procurou
manifestar a importância da psicomotricidade na educação básica e na formação
integral das crianças.
REFERÊNCIAS
BRASIL.
Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de
Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.
CABRAL,
Suzana V. Psicomotricidade Relacional:
Prática Clínica e Escolar. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
CAMPOS,
Aline Mara Araújo Dias. A importância da
Psicomotricidade para Educação Infantil. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/48643/a-importancia-da-psicomotricidade-para-educacao-infantil. Acesso em 20 de fevereiro de 2017.
COSTA,
A. C. Psicopedagogia e Psicomotricidade:
Pontos de Intersecção nas dificuldades de aprendizagem. Petrópolis: Vozes,
2002.
COSTALLAT,
D. M. M. A Psicomotricidade otimizando as
relações humanas. São Paulo: Arte e Ciência, 2002.
FERRONATTO,
Sônia Regina Brizolla. Psicomotricidade e
Formação de Professores: uma proposta de atuação. Trabalho apresentado como
monografia ao Programa de Pós-Graduação em Educação na área de Ensino Superior
do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, 2006.
FONSECA,
Vitor da. Psicomotricidade. São
Paulo: Martins Fontes, 1998.
GONÇALVES,
Fátima. Do andar ao escrever: um caminho
psicomotor. São Paulo: Cultural RBL Ltda, 1983.
LE
BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor
do nascimento até 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
PIAGET,
Jean. Seis estudos de psicologia. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 1991.
SBP.
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade.
Disponível em: https://<www.psicomotricidade.com.br> Acesso em 03 de fevereiro de
2017.
VAYER,
P. O equilíbrio corporal – uma abordagem
dinâmica dos problemas da atitude e do comportamento. Tradução de Maria
Aparecida Pabst. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
WALLON,
H. Do ato ao pensamento – ensaio de
psicologia comparada. Tradução de J. Seabra Dinis. Lisboa: Morais Editoras,
1979.
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