quarta-feira, 26 de junho de 2019

A aprendizagem e suas dificuldades escolares




A APRENDIZAGEM E SUAS DIFICULDADES ESCOLARES





A aprendizagem é um dos fatores que torna possível o desenvolvimento do ser humano, como processo ou conjunto de processos fundamentais que depende, em parte, da ação biológica que determina a maturidade e da ação do ambiente que origina a aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem, compreendidas como sendo alterações neurológicas ou do sistema nervoso, se encontram compreendidas em um termo geral, que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e no uso da escuta, da fala, da leitura, da escrita, do raciocínio ou outras habilidades, sobre o qual não se pode afirmar que existam definições claras, devido principalmente ao fato de que se relacionam a grupos também heterogêneos de indivíduos. O presente estudo objetiva revisar alguns aspectos acerca da aprendizagem e suas dificuldades, como processo que tanto torna possível o desenvolvimento do sistema nervoso como também evoca a função do ambiente e as relações entre a aprendizagem e maturação, definindo essas dificuldades e estabelecendo uma classificação para as mesmas. Do mesmo modo, conclui que as consequências das dificuldades de aprendizagem escolar, quando não enfrentadas de forma adequada, revertem em rendimento abaixo da capacidade do aluno e do próprio sistema educativo, com graves consequências para a vida social.
Quando surgem problemas escolares que dificultam a aprendizagem, poucas vezes é possível determinar uma causa concreta, tornando-se inespecífica boa parte dessas dificuldades, já que podem ser resultado de diversos fatores, todos de importância relativa, que ocorrem conjuntamente e se alimentam reciprocamente.
Contudo, como tais dificuldades se caracterizam por aspectos variados, como desordens nos processos cognitivos de atenção, percepção e memória, impedimentos neurológicos, como disfunções cerebrais, déficit de atenção e hiperatividade ou inteligência limitada, essa abordagem requer um aprofundamento, para que as intervenções possam ser eficientes, evitando que as dificuldades se convertam em quadros mais graves e com consequências de maior importância.
O presente estudo, com tal direcionamento, objetiva revisar alguns aspectos acerca da aprendizagem e suas dificuldades, como processo que tanto torna possível o desenvolvimento do sistema nervoso como também evoca a função do ambiente e as relações entre a aprendizagem e maturação, definindo essas dificuldades e estabelecendo uma classificação para as mesmas.
Do mesmo modo, busca contribuir para uma abordagem mais eficiente de tais questões, para que suas consequências não se estendam para a vida social do aluno, para a ineficiência do próprio sistema educativo, com graves consequências para a vida social.
Nas situações de aprendizagem intervém um grande número de fatores, cuja confluência específica determina o rendimento do aluno: as atividades de aprendizagem, as características individuais, a natureza dos materiais, as tarefas propostas e os critérios do docente.
Considerando-se a inteligência como capacidade de autorregular a própria aprendizagem, planejando estratégias adequadas a cada situação de aprendizagem e aplicá-las, as dificuldades de aprendizagem são vistas, comumente, como falta de capacidade para aprender por si próprio a informação dada, ou seja, para planificar e regular os processos de conhecimento.
De acordo com Fonseca:

No caso de crianças com dificuldades de aprendizagem, parece que seus problemas de atenção e de memória se devem a uma falta de tomada de consciência das demandas da tarefa, de quais são as estratégias que devem colocar em prática para resolvê-las, e não tanto a um problema de ausência de estratégias concretas. Estas crianças podem ter adquirido estratégias mnemônicas como repetir ou organizar o material, mas é no uso destas estratégias onde fracassam. O mesmo ocorre nos casos de problemas de atenção.
Alunos com dificuldades de aprendizagem, de um modo geral, não compreendem a relação entre atender e solucionar a tarefa e demonstram uma execução normal em situações onde o problema específico não seja tão importante – possuem deficiências específicas, mas habilidades mais gerais -, ou seja, o que caracteriza a inteligência permanece inalterado. (FONSECA, Vítor da. Dificuldades de Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica do insucesso escolar. Lisboa: Âncora Editora, 2004, p. 145.)

Fazem parte das dificuldades de aprendizagem vários problemas relativos ao ato de aprender de forma eficiente, no tempo estabelecido e sem o concurso de esforços humanos e materiais extraordinários.
Para Fonseca (2004), embora essas dificuldades apresentem diferenças substanciais quanto às suas causas, nos processos e variáveis psicológicas afetadas, bem como em suas consequências, de um modo geral, integram cinco grupos diferenciados:
a) problemas escolares;
b) baixo rendimento escolar;
c) dificuldades específicas de aprendizagem;
d) transtorno por déficit de atenção com hiperatividade;
e) discapacidade intelectual limite.
Disso se pode depreender que a definição das dificuldades de aprendizagem deve partir da formulação de princípios básicos, que acolham aspectos sobre os quais existe uma concordância, podendo ser enumerados conforme propõe Cruz (2005):
a) as dificuldades de aprendizagem fazem parte da Psicologia da Educação e constituem uma parte da formação profissional que envolve a Psicologia Escolar e a Psicopedagogia;
b) as dificuldades de aprendizagem são um fenômeno verdadeiro e não uma invenção ou construção social. Apesar dos condicionantes psicológicos, educativos, políticos, ideológicos e filosóficos implicados em seu surgimento e, sobretudo, em seu desenvolvimento e das dificuldades em defini-las adequadamente, existe grande número de alunos com problemas para apreender conteúdos escolares sem que isso se deva a causas sensoriais, a privações crônicas ou a graves discapacidades intelectuais;
c) indivíduos com dificuldades de aprendizagem costumam obter, em testes de Q. I., pontuações médias, realizando melhor os testes de execução não verbal;
d) indivíduos com dificuldades de aprendizagem rendem abaixo de sua capacidade, sendo esta uma das dimensões que definem tais dificuldades, embora no caso de discapacidade intelectual limite e de transtorno por déficit de atenção com hiperatividade se transcende a ideia de rendimento abaixo da capacidade, já que o déficit nos processos e procedimentos psicológicos implicados é severo;
e) dois elementos: “rendimento esperado” e “rendimento atual” delimitam o que se entende por rendimento inferior à capacidade e, em contraste, dão sentido ao chamado “critério de discrepância”, mediante o qual se segue o diagnóstico dos indivíduos com tais dificuldades. Se apenas se atende a um dos elementos, o que se estaria definindo seria unicamente o baixo rendimento;
f) dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento não são, portanto, expressões equivalentes. O baixo rendimento pode ser ocasionado por vários motivos.
 Ainda que o estudo científico das dificuldades de aprendizagem seja relativamente recente, é um dos campos do conhecimento científico que mais cresceu na atualidade, apesar das posições divergentes em sua conceituação, no diagnóstico e nas formas interventivas.
Diversas são as definições que se atribuí a estas dificuldades, que podem ser agrupadas em algumas concepções e modelos que as explicam, de acordo com o que ensinam Smith et al:
a) Enfoque cognitivo: diante da lacuna dos métodos tradicionais que buscaram explicar o que ocorre na mente dos alunos, sobretudo nas dificuldades de aprendizagem, surgiu o enfoque cognitivo, a partir do qual se busca responder ao processo de aprendizagem identificando, descrevendo e fundamentando os diversos processos e habilidades que ocorrem na transmissão e na captação de conteúdos.
Para explicar as dificuldades de aprendizagem, o enfoque cognitivo se orienta para o modelo de processamento da informação que se encontra também bastante identificado com o modelo neuropsicológico. Desta forma, assume que os processos essenciais de aprendizagem são os processos de aquisição, organização, interpretação e compreensão dos conteúdos ou conhecimentos e que é o próprio aluno que dá sentido a esta informação, construindo significados segundo seus conhecimentos prévios, experiências, disposição, etc.
Em relação aos alunos com dificuldades de aprendizagem, este enfoque assume duas posturas: os déficits dos alunos com dificuldades de aprendizagem são inatos e afetam, sobretudo, a memória, não podendo ser sanados ou modificados; os processos cognitivos dos indivíduos e seus possíveis déficits são considerados como modificáveis mediante treinamentos específicos.
b) Enfoque neuropsicológico: a Neuropsicologia, como disciplina científica, encarrega-se de estudar as relações entre a cognição humana e a atividade cerebral.
Toda a atividade psíquica se orienta, segundo esse enfoque, para a solução de problemas e este processo é compreendido integralmente mediante representações cognitivas com padrões próximos à realidade, de tal forma que os mesmos possam responder, como ação, para a transformação do entorno.
De acordo com esse enfoque, “as dificuldades de aprendizagem se referem a alterações no processamento da informação, por alterações cognitivas que causam déficits nos processos de seleção e elaboração” e podem se  manifestar, dentre outras formas, por imaturidade do sistema nervoso ou inadequada estimulação. (BOSSA, 2000)
Para Smith (2008) et al, “o aluno, a pesar de ter um bom nível intelectual, uma instrução convencional e oportunidades socioculturais, apresenta problemas nas habilidades necessárias para o rendimento escolar”.
c) Enfoque ecológico: sugere que as dificuldades de aprendizagem não podem ser consideradas, em sua totalidade, como uma questão do próprio aluno, mas que é possível conceber, de uma forma ampla, os fatores culturais e comunitários, familiares, escolares, etc., em uma visão ecológica da aprendizagem e, consequentemente, de suas dificuldades.
Tal enfoque considera que é possível conceber a família como um sistema de organização, de comunicação e de estabilidade, o qual pode influenciar na aprendizagem do aluno, assim como também influem sobre ela os fatores sociais, como a raça e o gênero, no âmbito escolar.
Na educação, segundo o enfoque ecológico, não se podem omitir os fatores sociais, econômicos e culturais. O enfoque de atenção ao aluno em sua aprendizagem deve ser multidisciplinar, baseado no diálogo cooperativo para a solução de problemas, dentro de um marco ecológico.
O diálogo aponta uma definição mais ampla dos processos de aprendizagem humana, orientando, desta forma, para que um tratamento das dificuldades de aprendizagem.
Desse modo, é necessário primeiramente esclarecer em que consiste a aprendizagem e considerar que esta se produz de forma ativa, dentro de um ecossistema único, mas rico em interações, no qual se constrói aos poucos uma vida com significados.
Desta forma, não se deve separar o cognitivo do afetivo, as habilidades do contexto significativo e do conteúdo e as condutas do contexto social.
d) Enfoque socio-histórico-cultural: quando se evidenciam as limitações no enfoque do processamento da informação, passa-se a considerar que as pessoas não podem ser consideradas como seres isolados social, cultural ou historicamente, mas que suas possibilidades dependem precisamente desses fatores.
Nesse sentido, os conceitos principais deste enfoque, baseado na teoria de Vygotsky, são definidos por Oliveira (1993):
a) um primeiro conceito desenvolvido pelo teórico é definido como a distância que existe entre as capacidades, os conhecimentos e as realizações da criança quando resolve um problema ou realiza uma tarefa por si mesmo e sem ajuda, o que se denomina zona de desenvolvimento atual e do que é capaz de realizar com a assessoria, orientação, ajuda ou apoio do adulto;
b) um segundo conceito implica na zona ou âmbito referente ao que a criança pode aprender em um futuro imediato, ou seja, se trata do que será capaz de avançar posteriormente, a partir do que poderá aprender imediatamente.
Esse conceito é muito mais flexível do que o anterior, já que define a zona de desenvolvimento próximo não como algo estático, mas sim dinâmico, móvel e que também seria definido pelo que a criança ou o aluno adquire em um momento subsequente.
c) como a zona de desenvolvimento próximo ou potencial não é algo estático, não é algo que a criança “possui”, esta se cria e se amplia ou se limita em função de processos interativos, que se estabelecem entre pais e filhos, entre uma criança e outras com diversos níveis de capacidade, entre o aluno e o professor.
A zona de desenvolvimento próximo se cria em um entorno social que possibilita a realização de atividades de ensino-aprendizagem. Acerca dessa colocação, Bruner (1999), afirma também que o desenvolvimento da criança depende das bases que lhe proporcionam as assessorias, as ajudas e as orientações de seu entorno social.
Para Smith et al, o conceito de desenvolvimento próximo criado nos processos interativos tem uma importância fundamental nas situações educativas, uma vez que as aprendizagens são adquiridas, primeiramente, no âmbito social, e somente após se internalizam ou se tornam individuais.
A estas teorias, Knapp (2002) também acrescentam uma perspectiva conduta, que propõe a transição das explicações neurológicas para os transtornos de aprendizagem para explicações psicológicas, configurando-se como o fundamento teórico dominante no estudo das dificuldades de aprendizagem.
De acordo com os autores, a principal preocupação dessa perspectiva é centrada em estudar os efeitos do meio exterior sobre a conduta, compondo-se diversas respostas que podem ser observadas e relacionadas com outros eventos apreciáveis.
No campo das dificuldades de aprendizagem, seu impacto pode ser observado na mudança de ótica produzida entre os pesquisadores, evoluindo para a proposição de intervenções para o tratamento. A orientação dos processos interventivos e a explicação do processo de aprendizagem se fundamenta na premissa básica de que a aprendizagem é uma sequência de processos associativos entre estímulos e respostas produzidas, através da repetição ou prática, o que indica que as dificuldades de aprendizagem não são consideradas em termos de déficit, mas como uma insuficiência na prática e nas experiências em relação com as tarefas de aprendizagem.
Qualquer intervenção junto a um aluno com dificuldades implica, necessariamente, na consideração de alguns pressupostos. A evolução na conceituação das dificuldades de aprendizagem e das diferentes práticas educativas tem sido reflexo das teorias que se configuraram, sucessivamente, como referências no campo do conhecimento psicopedagógico, especialmente aquelas teorias citadas no item anterior.
Em relação à avaliação psicopedagógica, Dalmau et al apud Monero, propõem que se deve considerar que esta sofreu um processo de profundas modificações durante os últimos anos e atualmente pode ser entendida como procedimento que visa dar suporte às decisões tomadas a respeito da situação de aprendizagem dos alunos e possíveis dificuldades. É um processo contínuo, cuja função é saber o que o aluno aprendeu, como aprendeu, de que apoio necessitou, que dificuldades encontrou, etc., baseando-se nele as decisões tomadas no processo ensino-aprendizagem.
Esta avaliação complementa a avaliação escolar, ajudando a escola a tomar decisões pedagógicas e promovendo a adequação da ação educativa às necessidades do aluno, para introduzir progressivamente as mudanças necessárias.
Ponderam as autoras que existem seis fases a ser seguidas para uma completa avaliação psicopedagógica :
a) aproveitamento da informação que a escola já possui sobre o aluno: é o início do processo de avaliação psicopedagógica, utilizando-se de informações colhidas no primeiro contato com a família, que foram passadas à ficha pessoal do aluno. Estas informações são ampliadas com a realização de entrevistas com os pais e a comparação dos primeiros dados com novas informações que possam ser acrescentadas pela família ou pelo professor, no decorrer da escolarização.
Pode-se classificar essas informações da seguinte forma, de acordo com cada etapa:
- Na Educação Infantil: os hábitos, atitudes (em relação aos familiares mais próximos, às outras crianças, aos adultos, animais, objetos, etc.), normas (dependência e independência nas relações, atitudes diante da frustração, aceitação e resolução de conflitos, etc.) e pautas educativas familiares, capacidades relativas à comunicação, expressão e compreensão da linguagem, desenvolvimento motor, memória, atenção, dentre outros.
- No Ensino Fundamental: autonomia e organização pessoal e hábitos de higiene, capacidades de linguagem e habilidades motoras, tarefas escolares, atividades extra-escola; atitude pessoal em relação à família, amigos, outros adultos, dependência ou independência nas relações (aceitação de normas, resolução de conflitos pessoais e coletivos, etc.).
- No Ensino Médio: autonomia e organização pessoal e hábitos de higiene, capacidades de linguagem e habilidades motoras, tarefas escolares, atividades extra-escola; atitude pessoal em relação à família, amigos, outros adultos, dependência ou independência nas relações (aceitação de normas, resolução de conflitos pessoais e coletivos, etc.), acrescidas de informações espontâneas sobre a família e a vida escolar, amigos, interesses, problemas, atitudes em casa, pedido de ajuda, aceitação e cumprimento de normas familiares, autonomia, reação de pais e familiares em caso de conflitos, responsabilidades pessoais relativas ao trabalho escolar, solicitação de ajuda para entendimento ou controle, acompanhamento da agenda, acompanhamento e entrevistas por professores, reações familiares ao desempenho escolar, tempo dedicado à leitura de livros não escolares, familiares que se encontram em casa ao término da jornada escolar.
b) avaliação da situação inicial: após a solicitação de intervenção feita pelo professor, inicia-se essa etapa, que é orientada basicamente pelas informações já obtidas sobre a situação inicial do aluno e os motivos da solicitação da avaliação psicopedagógica.
Servindo-se de um documento-guia, o psicopedagogo atualiza as informações, revisa os trabalhos escolares, analisa os materiais curriculares utilizados e a dinâmica da aula, bem como a eficácia das ações já tomadas. O que o aluno é capaz de fazer em relação às áreas instrumentais será registrado por escrito e comparado com a ideia inicial do orientador.
c) análise da evolução da situação inicial: objetivando facilitar a intervenção e a ajuda pedagógica ao aluno para gerar mudanças, esta fase se cumpre em três etapas:
1) observação em sala de aula, onde se buscará a informação de como se desenvolve a dinâmica da aula em seu conjunto, qual é a prática educativa do professor, descrevendo o que ocorre na sala de aula.
É avaliada a ligação e sequência entre as atividades, orais ou escritas, as normas para a apresentação, o material e o tempo utilizados; a ordem para início da atividade e explicações do professor, o acompanhamento, a coerência e a forma pela qual se assegura a compreensão; o desenvolvimento da atividade, sua diferenciação dentro desses aspectos e o tipo de atividade; a atitude do grupo, relativamente ao interesse, acompanhamento, grau de envolvimento, bem como dispersão, recondução da atividade e eficácia das intervenções do professor; o número de alunos que a acompanham as atividades, dificuldades, tempo médio de execução, apreciação da elaboração das tarefas, intervenções disciplinares, de esclarecimento, organização, correções gerais, ajudas solicitadas, propostas de reflexão e outras alheias; e, ao final da atividade, a intervenção do professor, a forma de correção e de registro do trabalho, proposta de trabalho de consolidação do conteúdo e avanço para a próxima sessão.
2) análise do trabalho dos alunos, para conhecer mais alguns detalhes da dinâmica da sala de aula, voltando a observação aos alunos, sobre o tipo de material utilizado, as normas de trabalho (obediência às normas estabelecidas), o nível de elaboração do trabalho e a qualidade da escrita, a frequência de determinados tipos de atividade, os erros mais habituais, a avaliação do professor (correções, anotações, comentários escritos). Numa análise comparativa entre os alunos e o professor, é acompanhada a evolução da aprendizagem ao longo do curso, para introduzir mudanças que sejam necessárias.
3) provas psicopedagógicas, que informarão sobre a capacidade do aluno nas diferentes áreas do currículo e em relação a suas diferentes capacidades. Tornam mais fácil obter informações e observar o estilo de aprendizagem e as dificuldades em progredir na escolaridade de cada aluno, em particular. Extrapolando o universo da escola, as provas psicopedagógicas observam o relacionamento familiar e social, os interesses e motivações e as maiores dificuldades que o aluno manifestar em relação a ambos.
d) devolução da informação: o que foi apurado é, nesta etapa, repassado aos professores. O procedimento sempre inicia por uma avaliação positiva do aluno, salientando suas capacidades, para que seja possível projetar e planejar ações educativas que sejam necessárias, deixando clara a situação do aluno no contexto escolar. Apresenta-se um resumo escrito da avaliação, orientando o trabalho que deve ser feito, deixando claro qual é a função de cada um dos envolvidos nesse trabalho e programando as reuniões de acompanhamento que se seguirão.
e) informação aos pais ou responsáveis legais: as conclusões da avaliação psicopedagógica, definidas as ações que serão tomadas pelo professor com relação aos alunos são comunicadas à família entrevistas que devem ser prioritariamente realizadas pelo professor, devendo-se evitar a participação de muitas pessoas. A participação do psicopedagogo se dará em casos especiais. Deve-se buscar esclarecer os aspectos relativos à situação familiar, para que a família possa ajudar e acompanhar as ações, complementando-as.
f) acompanhamento: esta etapa caracteriza-se pela revisão do processo educativo, apresentando-se sugestões sobre as adaptações que devem ser feitas no currículo e nas práticas de ensino, sobre decisões a serem tomadas no final do período para que o processo continue. O acompanhamento deve ser contínuo e envolver toda a comunidade escolar e familiar.
Quanto ao parecer prévio relativo aos alunos com necessidades educativas especiais, a avaliação pedagógica considera que essas necessidades, derivadas de distúrbios graves e permanentes, necessitam do parecer de um psicopedagogo para que se possa decidir sobre sua escolarização.
O parecer informa quais são as suas necessidades e quais as necessidades da escola, para que possam ter acesso à educação e deve considerar:
a) dados pessoais e familiares;
b) nível de competências curriculares em relação ao currículo e para cada área de estudo;
c) descrição de outros fatores e condições significativas para elaboração de propostas curriculares;
d) considerações que orientem a adaptação do currículo, priorizando capacitações, estabelecendo aprendizagens por área, estimando o grau de modificação do currículo;
e) proposta fundamentada sobre a escolarização do aluno;
f) opção expressa pelos pais ou representantes legais.
Partindo da avaliação psicopedagógica e das informações fornecidas pelos orientadores e pela família, o parecer pode incluir informações externas, de serviços especializados para alunos especiais.
Desse modo, observa-se que a avaliação psicopedagógica favorece a realização de ajustes necessários para que se aprenda a “aprender e ensinar melhor”, respeitando as diferenças individuais e promovendo aprendizagens mais significativas. Para isso, deve haver a colaboração e o envolvimento dos professores e de toda a estrutura da escola.
Ainda, conforme pondera Moraes (1999), a avaliação psicopedagógica deve partir do que a escola – cada escola concreta – exige do aluno com dificuldades de aprendizagem. Nesse sentido, a avaliação é considerada como um elemento essencial do planejamento curricular, posto que seus conteúdos são as dificuldades que se apresentam no processo concreto de ensino-aprendizagem.
Segundo Moraes (1999), a avaliação psicopedagógica das dificuldades de aprendizagem deve cumprir três objetivos fundamentais: descrever, explicar e prescrever – descrever do modo mais coerente e compreensível o que ocorre no processo de ensino-aprendizagem no qual surgem as dificuldades, para poder explicar como o aluno aprende e, em consequência, para propor um diagnóstico prescritivo que permita a elaboração de um plano de intervenção.
A descrição pormenorizada das variáveis e elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem somente se torna possível se as informações colhidas se mostram pertinentes. A descrição, portanto, é condição necessária, mas não suficiente para um bom processo de avaliação.
Disso se depreende que a Psicopedagogia contribui de forma mais efetiva quando formula e verifica hipóteses, relacionando e ordenando as informações de forma coerente e as explica para que a dificuldade de aprendizagem se torne compreensível e se esclareçam suas causas e consequências.
Para Moraes (1999), “explicar, na avaliação psicopedagógica, supõe, principalmente, ancorar a prescrição em informações factíveis, em um diagnóstico prescritivo que permita propor intervenções adequadas a uma solução”.
Ao final do processo, adverte Bossa que a avaliação psicopedagógica deverá proporcionar:
a) uma relação, cientificamente válida, das informações que permitam obter uma visão global, integradora, do que ocorre e de como interatuam as diversas variáveis, processos, estratégias e condutas.
b) uma explicação coerente e compreensível do que ocorre com o aluno, o professor e a família, da origem da dificuldade, de sua evolução, da situação na qual se encontra e como se relacionam e explicam suas características, além do prognóstico nos diferentes ambitos (pessoa, escolar, familiar e social).
Se as diferentes pessoas envolvidas não compreendem o problema, dificilmente se comprometerão de forma adequada em sua solução.
c) a efetivação, em colaboração com outros profissionais, de prescrições, ou seja, de um plano de intervenção psicoeducativa que possa propor soluções para a dificuldade de aprendizagem apresentada pelo aluno.

Conclusão
O estudo realizado levou à conclusão de que todo referencial consultado aponta para o fato de que as dificuldades na aprendizagem surgem da interação de múltiplos fatores, levando à consideração de que essas dificuldades dependem tanto das características e condições próprias de cada aluno como também das características do contexto educativo no qual se manifestam.
Esse novo enfoque implica também na conclusão de que as respostas tradicionais oferecidas aos alunos com dificuldades de aprendizagem desviam o foco de atenção do problema do aluno individualmente considerado para o contexto educativo, enfatizando que as decisões curriculares tomadas pelos docentes, as atividades de aprendizagem propostas, os métodos utilizados, as relações que se estabelecem entre professores e alunos influenciam na aprendizagem. Em consequência, consideram que a escola tem um papel determinante nos resultados da aprendizagem, posto que, dependendo da qualidade da resposta educativa que proporcione aos alunos, pode contribuir para superar, minimizar ou compensar as dificuldades de aprendizagem ou, contrariamente, agravá-las e mesmo criá-las, como produtos de um ensino inadequado.
A exploração das potencialidades de novos enfoques, que visam superar as limitações do enfoque tradicional para abordar as dificuldades dos alunos e evidenciar a interpretação dessas dificuldades a partir da forma pela qual se organizam os conteúdos e atividades e as condições criadas para estimular a participação e apoiar a aprendizagem amplia para todo o contexto educativo a responsabilidade pela introdução de mudanças necessárias, centrando a análise e os esforços no melhoramento dos processos de ensino e aprendizagem.
A contribuição da Psicopedagogia para esses novos enfoques evidencia o caráter interativo, que determina que as mudanças são relativas e mudam de acordo com o contexto em que se expressam e com os critérios com que são interpretadas e definidas.
Contribui, sobretudo, na compreensão de que as dificuldades que podem apresentar determinados alunos não são exatamente as mesmas em contextos diversos, mas adquirem uma dimensão e matizes distintos, em razão das respostas e das características de cada escola, de cada professor e de cada aluno.
Ainda, revela que as atitudes, expectativas, compreensão de todos os envolvidos – aluno, professor, família e sociedade – para com o processo de ensino e aprendizagem constituem um fator chave a ser considerado no desenvolvimento de uma avaliação e de um diagnóstico psicopedagógico que ofereça condições para a elaboração de intervenções eficientes.





BIBLIOGRAFIA


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