segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A Psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem




 A Psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem


RESUMO


Ao falar sobre a psicomotricidade na educação, logo imaginamos nas aulas de educação física, nas atividades recreativas envolvendo os movimentos, nos jogos e nas brincadeiras lúdicas e, assim pensamos que toda atividade psicomotora se baseia apenas nisso. No entanto, vários estudiosos e pesquisadores revelam a eficácia da psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem. O desenvolvimento do esquema corporal, da estrutura espacial, da orientação temporal, a lateralidade e a pré-escrita são os elementos básicos fornecido pelo ensino psicomotor. O trabalho apresentado valoriza as atividades da psicomotricidade como auxílio no processo da aprendizagem, pois sem essa ajuda os alunos teriam sérias dificuldades na aquisição da leitura, da escrita, na socialização, na expressão e nos diversos outros aspectos do desenvolvimento.


Introdução

Segundo o site da Associação Brasileira de Psicomotricidade:

Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (ABP, 2011)

Atividades pedagógicas relacionadas com o movimento e a parte física do corpo, já fazem parte das disciplinas obrigatórias da educação básica e envolve a educação infantil, o ensino fundamental e até o ensino médio. Toda atividade física, além de melhorar o condicionamento corporal, educa a mente, melhora a saúde e desenvolve aptidões.
O trabalho realizado procurou demonstrar que a psicomotricidade, incorporada na disciplina de Educação Física ou no Movimento, vai muito além da educação com o corpo, da lateralidade, da estrutura espacial ou esquema corporal.
Costa (2002) afirma que:

A psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que inclui as interações cognitivas, sensoriomotoras e psíquicas na compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do movimento, em um contexto psicossocial. Ela se constitui por um conjunto de conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o intento de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos objetos e outros sujeitos. (COSTA, 2002, p. 38)

A psicomotricidade é capaz de desenvolver no aluno o psíquico, o equilíbrio, o emocional, a cognição, a afetividade, a socialização, a inteligência, as relações interpessoais e intrapessoais, a criatividade e diversas outras capacidades e habilidades.
A colaboração das atividades psicomotoras na educação é enriquecedora e contribui no processo ensino-aprendizagem em conjunto com as outras disciplinas e as variadas formas de ensinar e aprender.
O processo ensino-aprendizagem acontece de várias maneiras. Por meio da experiência, da exploração e observação que o estudante aprende, modifica seu pensamento, interpreta e busca soluções de problemas. O papel do adulto educador é favorecer e enriquecer as situações e os momentos para promover o aprendizado.
Para que isso ocorra, é importante ofertar conteúdos e atividades que envolvam: diferentes gêneros textuais orais e escritos; diversas linguagens e formas de expressão como: musical, plástica, verbal, gestual e dramática, a arte, o cinema, o teatro, a poesia, a literatura, a fotografia e diversos outros incentivos para a exploração do meio e o cultivo da curiosidade. Também é necessário conteúdos que envolvam os cálculos, raciocínio e a matemática, estudos geométricos, geográficos, a história, as ciências biológicas, o movimento e a educação física.
Diferentes pensadores e autores acreditam que quando há deficiência no desenvolvimento psicomotor, o aluno apresenta sérias dificuldades na fala, na expressão, na interpretação, na leitura, na escrita, nos cálculos matemáticos, no desenvolvimento crítico e criativo, no psíquico, afetivo e até no físico.
Para Vayer (1986), a educação da psicomotricidade também é uma ação pedagógica e psicológica, pois utiliza os meios da educação física com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento da criança. Dessa forma, os alunos se desenvolvem com muita mais eficiência e rapidez quando associado as atividades psicomotoras às demais disciplinas.
O trabalho foi baseado teoricamente nos pensadores:  Gonçalves (1983), Costa (2002), Vayer (1986), Cabral (2001), Wallon (1979), Jean Piaget (1982), Ferronato (2006), Dupré (1909), Le Boulch (1984), Costallat (2002), Fonseca (2008), Gonçalves (1983), Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998) e a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2011).

Desenvolvimento

A Psicomotricidade surgiu na França, no final do século XIX e foi definida como uma ciência que atua na educação, na clínica e na reeducação. Nesse período foram realizados pesquisas e estudos voltados à área neurológica, focalizando as patologias corticais.
Nessa época podemos destacar o neurologista Dupré (1909) que denominou o desequilíbrio motor de “debilidade motora”. Já o médico psiquiatra Henri Wallon (1925) relacionou o movimento do corpo ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da criança. Edouard Guilmain (1930) cria o termo “reeducação psocomotora”. J. Ajuriaguerra e R. Diatkine (1947) redefinem o conceito de “debilidade motora” para uma “síndrome”. Apenas no ano de 1970 com os psicomotricista André Lapierre e Bernard Auconturier será definida como a “Psicomotricidade Relacional”.
Nesse momento, as teorias de Jean Piaget (1982) e as ideias psicomotoras de diferentes autores, liderado por Wallon (1925), que valorizava o esquema corporal, vão influenciar e repensar o significado da educação psicomotora. A ideia do desenvolvimento global da criança passa a ter predominância. Nesse período então, os psicomotricistas iniciam sua pratica, buscando relações com as instituições escolares.
Segundo Cabral (2001), no Brasil a partir da década de 1950 a psicomotricidade tem sido tema de estudos e de pesquisa e foi introduzida nas escolas especiais como apoio e instrumento para corrigir as dificuldades psicomotoras das crianças com deficiência.
Ainda de acordo com Cabral, foi na década de 1970 que na França, como também no Brasil, a psicomotricidade passa da “perspectiva de reeducação psicomotora” para uma “educação psicomotora”, pensando no indivíduo não parcialmente, mas em sua totalidade.
Ferronato (2006) afirma que:

A psicomotricidade é fundamental para as aprendizagens escolares, uma vez que se configura em um suporte para alcançar aprendizagens mais elaboradas no plano cognitivo e no processo de alfabetização. O seu conhecimento auxilia e capacita o aluno para uma melhor assimilação das aprendizagens escolares. (FERRONATO, 2006, p. 12).


A Psicomotricidade como área do conhecimento do corpo em movimento, é de fundamental importância para desenvolver o ser humano em sua totalidade e contribuir nas expressões cognitivas, intelectuais, psíquicas, afetivas e emocionais.
Toda atividade que envolve a psicomotricidade proporciona ao participante prazer em manipular os objetos, bem-estar, interatividade, cooperação, autoestima, criatividade e contentamento.
Le Boulch (1984) acreditava que a educação psicomotora deveria ser considerada como uma educação de base na escola e ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares.
Costallat (2002) afirma que:

O trabalho psicomotor privilegia o ato físico, mas leva-o ao trabalho mental, no qual se aprende a escutar, interpretar, imaginar, organizar, representar, passar da ideia ao ato, do abstrato ao concreto, bases imprescindíveis da aprendizagem formal. (COSTALLAT, 2002, p. 40)

A psicomotricidade possibilita aos estudantes uma infinidade de vivências concretas. Quando falta aos estudantes o desenvolvimento motor, ou quando não é bem trabalhado no ensino escolar, poderá apresentar no futuro, problemas na escrita, na gramática, na leitura, na ordenação de sílabas, na distinção de letras e até no pensamento abstrato.
As atividades desenvolvidas na psicomotricidade oportuniza nos estudantes condições de desenvolver capacidades básicas relacionado ao intelecto, motor, cognitivo, afetivo, social e emocional.
As experiências vivenciadas por meio dos jogos e das brincadeiras voltadas ao esquema corporal, de lateralidade, estrutura espacial e orientação temporal reforçam a maturação orgânica progressiva e capacita os alunos a se desenvolverem integralmente em todos os seus aspectos.
De acordo com Fonseca (1998), Wallon afirma que:

[...] o movimento não é um puro deslocamento no espaço nem uma adição pura e simples de contradições musculares: o movimento tem um significado de relação e de interação afetiva com o mundo exterior, pois é a expressão material, concreta e corporal de uma dialética e subjetivo-afetivo que projeta a criança no contexto da sociogênese (FONSECA, 2008, p. 17).

Essa “relação e interação com o mundo exterior” pelas atividades psicomotoras possibilita as diferentes aprendizagens, pois, “ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais” (RCNEI, 1998, p.15).
Segundo Gonçalves (1983),

O movimento, na sua ação, manifesta a sua exteriorização significativa dos desejos e das aquisições do indivíduo, pois traduz o corpo vivido, o conhecimento concreto experimentado pelo sujeito. A originalidade peculiar do movimento não o caracteriza como mecanismo psíquico ou filosófico, como consciente ou inconsciente; ele traduz e projeta no mundo a ação relativa a um sujeito (GONÇALVES, 1983, p. 27).


Para Gonçalves o movimento demonstra tudo aquilo que o aluno carrega consigo, suas aspirações mais profundas, desejos, vontades, sonhos, frustrações, medos, traumas, complexos, realizações. Mas também através do movimento o sujeito é capaz de compreender o mundo, seus ensinamentos, suas aprendizagens para dentro de si e por meio desse processo ser capaz de aprender, compreender, desenvolver-se, ter habilidades e competências necessárias para atuar na sociedade e no mundo ao seu redor.
Gonçalves (1983) também afirma que,

É Por meio da atividade motora que a criança vai construindo um mundo mental cada vez mais complexo, não apenas em conteúdo, mas também em estrutura. O mundo mental da criança, devido às ações e interações com o mundo natural e social, acaba por apresentar essas realidades por meio de sensações e imagens dentro de seu corpo e de seu cérebro. Primeiro por intervenção de outras pessoas, que atuam como mediadoras entre as crianças e o mundo; depois pelos sucessos e insucessos da sua ação, ela vai adquirindo experiências que virão a ser determinantes no seu desenvolvimento psicológico futuro (GONÇALVES, 1983, p. 27).

Dessa forma, toda atividade psicomotora, quando bem trabalhada com as crianças promove a aprendizagem. O educador, como mediador, com seu trabalho, esforço e empenho facilita o processo ensino-aprendizagem pelo movimento. Atividades bem elaboradas com objetivos, metodologias e uma boa didática possibilita um aprender e ensinar com criatividade, dinamismo, participação, recreação e principalmente com alegria e entusiasmo tanto da parte dos alunos quanto dos educadores.
A psicomotricidade na educação básica favorece integralmente o processo de ensino-aprendizagem do aluno em sua totalidade. A contribuição do movimento vai mundo além do corpo, como já verificamos. Colabora no desenvolvimento do psíquico, do intelecto, no afetivo, no social, na desenvoltura do corpo (na sua lateralidade, orientação corporal e estrutura espacial). Os estudantes dificilmente apresentarão dificuldades na alfabetização, na escrita, na leitura, nos cálculos matemáticos e nas demais aprendizagens.


Conclusão

O trabalho apresentado valorizou o ensino do movimento como forma de favorecimento ao processo ensino-aprendizagem. O ato de aprender e se desenvolver intelectualmente envolve a maturação, aquilo que a criança já tem aprendido e também os ensinamentos proporcionados pelo meio.
Este último envolve os conhecimentos da linguagem e da escrita, das ciências, da geografia, da natureza e sociedade, da história, da matemática, das artes, da música, do teatro, do cinema e muitos outros conhecimentos oferecidos pelo ensino regular. Pela educação física ou o movimento, é oferecido aos alunos a psicomotricidade e mais do que a educação do corpo é o ensino total e completo do indivíduo.
Sem a formação do movimento a criança não é capaz de adquirir os demais ensinamentos. Apresentará dificuldades motoras, na fala, na dicção, na interpretação, na leitura, nos cálculos matemáticos, na interação com o outro, até mesmo na socialização com o meio em que vive. Essas lacunas acarretará problemas psíquicos, na autoestima, na sua intelectualidade e no convívio social.
Sabemos que hoje os educadores preocupados em fazer as crianças lerem e escreverem o quanto antes, acabam deixando de lado as atividades como pular, correr, saltar, jogos e brincadeiras que envolvem superações corporais e aptidões físicas. E infelizmente acabam errando, pois sem compreenderem a importância do desenvolvimento psicomotor impedem que os alunos se desenvolvam com mais rapidez pelas atividades motoras.
O trabalho de conclusão de curso, com a utilização bibliográfica de alguns autores e pensadores procurou manifestar a importância da psicomotricidade na educação básica e na formação integral das crianças.



           
REFERÊNCIAS


BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.

CABRAL, Suzana V. Psicomotricidade Relacional: Prática Clínica e Escolar. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.

CAMPOS, Aline Mara Araújo Dias. A importância da Psicomotricidade para Educação Infantil. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/48643/a-importancia-da-psicomotricidade-para-educacao-infantil. Acesso em 20 de fevereiro de 2017.

COSTA, A. C. Psicopedagogia e Psicomotricidade: Pontos de Intersecção nas dificuldades de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2002.

COSTALLAT, D. M. M. A Psicomotricidade otimizando as relações humanas. São Paulo: Arte e Ciência, 2002.

FERRONATTO, Sônia Regina Brizolla. Psicomotricidade e Formação de Professores: uma proposta de atuação. Trabalho apresentado como monografia ao Programa de Pós-Graduação em Educação na área de Ensino Superior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2006.

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

GONÇALVES, Fátima. Do andar ao escrever: um caminho psicomotor. São Paulo: Cultural RBL Ltda, 1983.

LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.

SBP. Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em: https://<www.psicomotricidade.com.br> Acesso em 03 de fevereiro de 2017.

VAYER, P. O equilíbrio corporal – uma abordagem dinâmica dos problemas da atitude e do comportamento. Tradução de Maria Aparecida Pabst. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

WALLON, H. Do ato ao pensamento – ensaio de psicologia comparada. Tradução de J. Seabra Dinis. Lisboa: Morais Editoras, 1979.











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