quarta-feira, 26 de junho de 2019

A aprendizagem e suas dificuldades escolares




A APRENDIZAGEM E SUAS DIFICULDADES ESCOLARES





A aprendizagem é um dos fatores que torna possível o desenvolvimento do ser humano, como processo ou conjunto de processos fundamentais que depende, em parte, da ação biológica que determina a maturidade e da ação do ambiente que origina a aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem, compreendidas como sendo alterações neurológicas ou do sistema nervoso, se encontram compreendidas em um termo geral, que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e no uso da escuta, da fala, da leitura, da escrita, do raciocínio ou outras habilidades, sobre o qual não se pode afirmar que existam definições claras, devido principalmente ao fato de que se relacionam a grupos também heterogêneos de indivíduos. O presente estudo objetiva revisar alguns aspectos acerca da aprendizagem e suas dificuldades, como processo que tanto torna possível o desenvolvimento do sistema nervoso como também evoca a função do ambiente e as relações entre a aprendizagem e maturação, definindo essas dificuldades e estabelecendo uma classificação para as mesmas. Do mesmo modo, conclui que as consequências das dificuldades de aprendizagem escolar, quando não enfrentadas de forma adequada, revertem em rendimento abaixo da capacidade do aluno e do próprio sistema educativo, com graves consequências para a vida social.
Quando surgem problemas escolares que dificultam a aprendizagem, poucas vezes é possível determinar uma causa concreta, tornando-se inespecífica boa parte dessas dificuldades, já que podem ser resultado de diversos fatores, todos de importância relativa, que ocorrem conjuntamente e se alimentam reciprocamente.
Contudo, como tais dificuldades se caracterizam por aspectos variados, como desordens nos processos cognitivos de atenção, percepção e memória, impedimentos neurológicos, como disfunções cerebrais, déficit de atenção e hiperatividade ou inteligência limitada, essa abordagem requer um aprofundamento, para que as intervenções possam ser eficientes, evitando que as dificuldades se convertam em quadros mais graves e com consequências de maior importância.
O presente estudo, com tal direcionamento, objetiva revisar alguns aspectos acerca da aprendizagem e suas dificuldades, como processo que tanto torna possível o desenvolvimento do sistema nervoso como também evoca a função do ambiente e as relações entre a aprendizagem e maturação, definindo essas dificuldades e estabelecendo uma classificação para as mesmas.
Do mesmo modo, busca contribuir para uma abordagem mais eficiente de tais questões, para que suas consequências não se estendam para a vida social do aluno, para a ineficiência do próprio sistema educativo, com graves consequências para a vida social.
Nas situações de aprendizagem intervém um grande número de fatores, cuja confluência específica determina o rendimento do aluno: as atividades de aprendizagem, as características individuais, a natureza dos materiais, as tarefas propostas e os critérios do docente.
Considerando-se a inteligência como capacidade de autorregular a própria aprendizagem, planejando estratégias adequadas a cada situação de aprendizagem e aplicá-las, as dificuldades de aprendizagem são vistas, comumente, como falta de capacidade para aprender por si próprio a informação dada, ou seja, para planificar e regular os processos de conhecimento.
De acordo com Fonseca:

No caso de crianças com dificuldades de aprendizagem, parece que seus problemas de atenção e de memória se devem a uma falta de tomada de consciência das demandas da tarefa, de quais são as estratégias que devem colocar em prática para resolvê-las, e não tanto a um problema de ausência de estratégias concretas. Estas crianças podem ter adquirido estratégias mnemônicas como repetir ou organizar o material, mas é no uso destas estratégias onde fracassam. O mesmo ocorre nos casos de problemas de atenção.
Alunos com dificuldades de aprendizagem, de um modo geral, não compreendem a relação entre atender e solucionar a tarefa e demonstram uma execução normal em situações onde o problema específico não seja tão importante – possuem deficiências específicas, mas habilidades mais gerais -, ou seja, o que caracteriza a inteligência permanece inalterado. (FONSECA, Vítor da. Dificuldades de Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica do insucesso escolar. Lisboa: Âncora Editora, 2004, p. 145.)

Fazem parte das dificuldades de aprendizagem vários problemas relativos ao ato de aprender de forma eficiente, no tempo estabelecido e sem o concurso de esforços humanos e materiais extraordinários.
Para Fonseca (2004), embora essas dificuldades apresentem diferenças substanciais quanto às suas causas, nos processos e variáveis psicológicas afetadas, bem como em suas consequências, de um modo geral, integram cinco grupos diferenciados:
a) problemas escolares;
b) baixo rendimento escolar;
c) dificuldades específicas de aprendizagem;
d) transtorno por déficit de atenção com hiperatividade;
e) discapacidade intelectual limite.
Disso se pode depreender que a definição das dificuldades de aprendizagem deve partir da formulação de princípios básicos, que acolham aspectos sobre os quais existe uma concordância, podendo ser enumerados conforme propõe Cruz (2005):
a) as dificuldades de aprendizagem fazem parte da Psicologia da Educação e constituem uma parte da formação profissional que envolve a Psicologia Escolar e a Psicopedagogia;
b) as dificuldades de aprendizagem são um fenômeno verdadeiro e não uma invenção ou construção social. Apesar dos condicionantes psicológicos, educativos, políticos, ideológicos e filosóficos implicados em seu surgimento e, sobretudo, em seu desenvolvimento e das dificuldades em defini-las adequadamente, existe grande número de alunos com problemas para apreender conteúdos escolares sem que isso se deva a causas sensoriais, a privações crônicas ou a graves discapacidades intelectuais;
c) indivíduos com dificuldades de aprendizagem costumam obter, em testes de Q. I., pontuações médias, realizando melhor os testes de execução não verbal;
d) indivíduos com dificuldades de aprendizagem rendem abaixo de sua capacidade, sendo esta uma das dimensões que definem tais dificuldades, embora no caso de discapacidade intelectual limite e de transtorno por déficit de atenção com hiperatividade se transcende a ideia de rendimento abaixo da capacidade, já que o déficit nos processos e procedimentos psicológicos implicados é severo;
e) dois elementos: “rendimento esperado” e “rendimento atual” delimitam o que se entende por rendimento inferior à capacidade e, em contraste, dão sentido ao chamado “critério de discrepância”, mediante o qual se segue o diagnóstico dos indivíduos com tais dificuldades. Se apenas se atende a um dos elementos, o que se estaria definindo seria unicamente o baixo rendimento;
f) dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento não são, portanto, expressões equivalentes. O baixo rendimento pode ser ocasionado por vários motivos.
 Ainda que o estudo científico das dificuldades de aprendizagem seja relativamente recente, é um dos campos do conhecimento científico que mais cresceu na atualidade, apesar das posições divergentes em sua conceituação, no diagnóstico e nas formas interventivas.
Diversas são as definições que se atribuí a estas dificuldades, que podem ser agrupadas em algumas concepções e modelos que as explicam, de acordo com o que ensinam Smith et al:
a) Enfoque cognitivo: diante da lacuna dos métodos tradicionais que buscaram explicar o que ocorre na mente dos alunos, sobretudo nas dificuldades de aprendizagem, surgiu o enfoque cognitivo, a partir do qual se busca responder ao processo de aprendizagem identificando, descrevendo e fundamentando os diversos processos e habilidades que ocorrem na transmissão e na captação de conteúdos.
Para explicar as dificuldades de aprendizagem, o enfoque cognitivo se orienta para o modelo de processamento da informação que se encontra também bastante identificado com o modelo neuropsicológico. Desta forma, assume que os processos essenciais de aprendizagem são os processos de aquisição, organização, interpretação e compreensão dos conteúdos ou conhecimentos e que é o próprio aluno que dá sentido a esta informação, construindo significados segundo seus conhecimentos prévios, experiências, disposição, etc.
Em relação aos alunos com dificuldades de aprendizagem, este enfoque assume duas posturas: os déficits dos alunos com dificuldades de aprendizagem são inatos e afetam, sobretudo, a memória, não podendo ser sanados ou modificados; os processos cognitivos dos indivíduos e seus possíveis déficits são considerados como modificáveis mediante treinamentos específicos.
b) Enfoque neuropsicológico: a Neuropsicologia, como disciplina científica, encarrega-se de estudar as relações entre a cognição humana e a atividade cerebral.
Toda a atividade psíquica se orienta, segundo esse enfoque, para a solução de problemas e este processo é compreendido integralmente mediante representações cognitivas com padrões próximos à realidade, de tal forma que os mesmos possam responder, como ação, para a transformação do entorno.
De acordo com esse enfoque, “as dificuldades de aprendizagem se referem a alterações no processamento da informação, por alterações cognitivas que causam déficits nos processos de seleção e elaboração” e podem se  manifestar, dentre outras formas, por imaturidade do sistema nervoso ou inadequada estimulação. (BOSSA, 2000)
Para Smith (2008) et al, “o aluno, a pesar de ter um bom nível intelectual, uma instrução convencional e oportunidades socioculturais, apresenta problemas nas habilidades necessárias para o rendimento escolar”.
c) Enfoque ecológico: sugere que as dificuldades de aprendizagem não podem ser consideradas, em sua totalidade, como uma questão do próprio aluno, mas que é possível conceber, de uma forma ampla, os fatores culturais e comunitários, familiares, escolares, etc., em uma visão ecológica da aprendizagem e, consequentemente, de suas dificuldades.
Tal enfoque considera que é possível conceber a família como um sistema de organização, de comunicação e de estabilidade, o qual pode influenciar na aprendizagem do aluno, assim como também influem sobre ela os fatores sociais, como a raça e o gênero, no âmbito escolar.
Na educação, segundo o enfoque ecológico, não se podem omitir os fatores sociais, econômicos e culturais. O enfoque de atenção ao aluno em sua aprendizagem deve ser multidisciplinar, baseado no diálogo cooperativo para a solução de problemas, dentro de um marco ecológico.
O diálogo aponta uma definição mais ampla dos processos de aprendizagem humana, orientando, desta forma, para que um tratamento das dificuldades de aprendizagem.
Desse modo, é necessário primeiramente esclarecer em que consiste a aprendizagem e considerar que esta se produz de forma ativa, dentro de um ecossistema único, mas rico em interações, no qual se constrói aos poucos uma vida com significados.
Desta forma, não se deve separar o cognitivo do afetivo, as habilidades do contexto significativo e do conteúdo e as condutas do contexto social.
d) Enfoque socio-histórico-cultural: quando se evidenciam as limitações no enfoque do processamento da informação, passa-se a considerar que as pessoas não podem ser consideradas como seres isolados social, cultural ou historicamente, mas que suas possibilidades dependem precisamente desses fatores.
Nesse sentido, os conceitos principais deste enfoque, baseado na teoria de Vygotsky, são definidos por Oliveira (1993):
a) um primeiro conceito desenvolvido pelo teórico é definido como a distância que existe entre as capacidades, os conhecimentos e as realizações da criança quando resolve um problema ou realiza uma tarefa por si mesmo e sem ajuda, o que se denomina zona de desenvolvimento atual e do que é capaz de realizar com a assessoria, orientação, ajuda ou apoio do adulto;
b) um segundo conceito implica na zona ou âmbito referente ao que a criança pode aprender em um futuro imediato, ou seja, se trata do que será capaz de avançar posteriormente, a partir do que poderá aprender imediatamente.
Esse conceito é muito mais flexível do que o anterior, já que define a zona de desenvolvimento próximo não como algo estático, mas sim dinâmico, móvel e que também seria definido pelo que a criança ou o aluno adquire em um momento subsequente.
c) como a zona de desenvolvimento próximo ou potencial não é algo estático, não é algo que a criança “possui”, esta se cria e se amplia ou se limita em função de processos interativos, que se estabelecem entre pais e filhos, entre uma criança e outras com diversos níveis de capacidade, entre o aluno e o professor.
A zona de desenvolvimento próximo se cria em um entorno social que possibilita a realização de atividades de ensino-aprendizagem. Acerca dessa colocação, Bruner (1999), afirma também que o desenvolvimento da criança depende das bases que lhe proporcionam as assessorias, as ajudas e as orientações de seu entorno social.
Para Smith et al, o conceito de desenvolvimento próximo criado nos processos interativos tem uma importância fundamental nas situações educativas, uma vez que as aprendizagens são adquiridas, primeiramente, no âmbito social, e somente após se internalizam ou se tornam individuais.
A estas teorias, Knapp (2002) também acrescentam uma perspectiva conduta, que propõe a transição das explicações neurológicas para os transtornos de aprendizagem para explicações psicológicas, configurando-se como o fundamento teórico dominante no estudo das dificuldades de aprendizagem.
De acordo com os autores, a principal preocupação dessa perspectiva é centrada em estudar os efeitos do meio exterior sobre a conduta, compondo-se diversas respostas que podem ser observadas e relacionadas com outros eventos apreciáveis.
No campo das dificuldades de aprendizagem, seu impacto pode ser observado na mudança de ótica produzida entre os pesquisadores, evoluindo para a proposição de intervenções para o tratamento. A orientação dos processos interventivos e a explicação do processo de aprendizagem se fundamenta na premissa básica de que a aprendizagem é uma sequência de processos associativos entre estímulos e respostas produzidas, através da repetição ou prática, o que indica que as dificuldades de aprendizagem não são consideradas em termos de déficit, mas como uma insuficiência na prática e nas experiências em relação com as tarefas de aprendizagem.
Qualquer intervenção junto a um aluno com dificuldades implica, necessariamente, na consideração de alguns pressupostos. A evolução na conceituação das dificuldades de aprendizagem e das diferentes práticas educativas tem sido reflexo das teorias que se configuraram, sucessivamente, como referências no campo do conhecimento psicopedagógico, especialmente aquelas teorias citadas no item anterior.
Em relação à avaliação psicopedagógica, Dalmau et al apud Monero, propõem que se deve considerar que esta sofreu um processo de profundas modificações durante os últimos anos e atualmente pode ser entendida como procedimento que visa dar suporte às decisões tomadas a respeito da situação de aprendizagem dos alunos e possíveis dificuldades. É um processo contínuo, cuja função é saber o que o aluno aprendeu, como aprendeu, de que apoio necessitou, que dificuldades encontrou, etc., baseando-se nele as decisões tomadas no processo ensino-aprendizagem.
Esta avaliação complementa a avaliação escolar, ajudando a escola a tomar decisões pedagógicas e promovendo a adequação da ação educativa às necessidades do aluno, para introduzir progressivamente as mudanças necessárias.
Ponderam as autoras que existem seis fases a ser seguidas para uma completa avaliação psicopedagógica :
a) aproveitamento da informação que a escola já possui sobre o aluno: é o início do processo de avaliação psicopedagógica, utilizando-se de informações colhidas no primeiro contato com a família, que foram passadas à ficha pessoal do aluno. Estas informações são ampliadas com a realização de entrevistas com os pais e a comparação dos primeiros dados com novas informações que possam ser acrescentadas pela família ou pelo professor, no decorrer da escolarização.
Pode-se classificar essas informações da seguinte forma, de acordo com cada etapa:
- Na Educação Infantil: os hábitos, atitudes (em relação aos familiares mais próximos, às outras crianças, aos adultos, animais, objetos, etc.), normas (dependência e independência nas relações, atitudes diante da frustração, aceitação e resolução de conflitos, etc.) e pautas educativas familiares, capacidades relativas à comunicação, expressão e compreensão da linguagem, desenvolvimento motor, memória, atenção, dentre outros.
- No Ensino Fundamental: autonomia e organização pessoal e hábitos de higiene, capacidades de linguagem e habilidades motoras, tarefas escolares, atividades extra-escola; atitude pessoal em relação à família, amigos, outros adultos, dependência ou independência nas relações (aceitação de normas, resolução de conflitos pessoais e coletivos, etc.).
- No Ensino Médio: autonomia e organização pessoal e hábitos de higiene, capacidades de linguagem e habilidades motoras, tarefas escolares, atividades extra-escola; atitude pessoal em relação à família, amigos, outros adultos, dependência ou independência nas relações (aceitação de normas, resolução de conflitos pessoais e coletivos, etc.), acrescidas de informações espontâneas sobre a família e a vida escolar, amigos, interesses, problemas, atitudes em casa, pedido de ajuda, aceitação e cumprimento de normas familiares, autonomia, reação de pais e familiares em caso de conflitos, responsabilidades pessoais relativas ao trabalho escolar, solicitação de ajuda para entendimento ou controle, acompanhamento da agenda, acompanhamento e entrevistas por professores, reações familiares ao desempenho escolar, tempo dedicado à leitura de livros não escolares, familiares que se encontram em casa ao término da jornada escolar.
b) avaliação da situação inicial: após a solicitação de intervenção feita pelo professor, inicia-se essa etapa, que é orientada basicamente pelas informações já obtidas sobre a situação inicial do aluno e os motivos da solicitação da avaliação psicopedagógica.
Servindo-se de um documento-guia, o psicopedagogo atualiza as informações, revisa os trabalhos escolares, analisa os materiais curriculares utilizados e a dinâmica da aula, bem como a eficácia das ações já tomadas. O que o aluno é capaz de fazer em relação às áreas instrumentais será registrado por escrito e comparado com a ideia inicial do orientador.
c) análise da evolução da situação inicial: objetivando facilitar a intervenção e a ajuda pedagógica ao aluno para gerar mudanças, esta fase se cumpre em três etapas:
1) observação em sala de aula, onde se buscará a informação de como se desenvolve a dinâmica da aula em seu conjunto, qual é a prática educativa do professor, descrevendo o que ocorre na sala de aula.
É avaliada a ligação e sequência entre as atividades, orais ou escritas, as normas para a apresentação, o material e o tempo utilizados; a ordem para início da atividade e explicações do professor, o acompanhamento, a coerência e a forma pela qual se assegura a compreensão; o desenvolvimento da atividade, sua diferenciação dentro desses aspectos e o tipo de atividade; a atitude do grupo, relativamente ao interesse, acompanhamento, grau de envolvimento, bem como dispersão, recondução da atividade e eficácia das intervenções do professor; o número de alunos que a acompanham as atividades, dificuldades, tempo médio de execução, apreciação da elaboração das tarefas, intervenções disciplinares, de esclarecimento, organização, correções gerais, ajudas solicitadas, propostas de reflexão e outras alheias; e, ao final da atividade, a intervenção do professor, a forma de correção e de registro do trabalho, proposta de trabalho de consolidação do conteúdo e avanço para a próxima sessão.
2) análise do trabalho dos alunos, para conhecer mais alguns detalhes da dinâmica da sala de aula, voltando a observação aos alunos, sobre o tipo de material utilizado, as normas de trabalho (obediência às normas estabelecidas), o nível de elaboração do trabalho e a qualidade da escrita, a frequência de determinados tipos de atividade, os erros mais habituais, a avaliação do professor (correções, anotações, comentários escritos). Numa análise comparativa entre os alunos e o professor, é acompanhada a evolução da aprendizagem ao longo do curso, para introduzir mudanças que sejam necessárias.
3) provas psicopedagógicas, que informarão sobre a capacidade do aluno nas diferentes áreas do currículo e em relação a suas diferentes capacidades. Tornam mais fácil obter informações e observar o estilo de aprendizagem e as dificuldades em progredir na escolaridade de cada aluno, em particular. Extrapolando o universo da escola, as provas psicopedagógicas observam o relacionamento familiar e social, os interesses e motivações e as maiores dificuldades que o aluno manifestar em relação a ambos.
d) devolução da informação: o que foi apurado é, nesta etapa, repassado aos professores. O procedimento sempre inicia por uma avaliação positiva do aluno, salientando suas capacidades, para que seja possível projetar e planejar ações educativas que sejam necessárias, deixando clara a situação do aluno no contexto escolar. Apresenta-se um resumo escrito da avaliação, orientando o trabalho que deve ser feito, deixando claro qual é a função de cada um dos envolvidos nesse trabalho e programando as reuniões de acompanhamento que se seguirão.
e) informação aos pais ou responsáveis legais: as conclusões da avaliação psicopedagógica, definidas as ações que serão tomadas pelo professor com relação aos alunos são comunicadas à família entrevistas que devem ser prioritariamente realizadas pelo professor, devendo-se evitar a participação de muitas pessoas. A participação do psicopedagogo se dará em casos especiais. Deve-se buscar esclarecer os aspectos relativos à situação familiar, para que a família possa ajudar e acompanhar as ações, complementando-as.
f) acompanhamento: esta etapa caracteriza-se pela revisão do processo educativo, apresentando-se sugestões sobre as adaptações que devem ser feitas no currículo e nas práticas de ensino, sobre decisões a serem tomadas no final do período para que o processo continue. O acompanhamento deve ser contínuo e envolver toda a comunidade escolar e familiar.
Quanto ao parecer prévio relativo aos alunos com necessidades educativas especiais, a avaliação pedagógica considera que essas necessidades, derivadas de distúrbios graves e permanentes, necessitam do parecer de um psicopedagogo para que se possa decidir sobre sua escolarização.
O parecer informa quais são as suas necessidades e quais as necessidades da escola, para que possam ter acesso à educação e deve considerar:
a) dados pessoais e familiares;
b) nível de competências curriculares em relação ao currículo e para cada área de estudo;
c) descrição de outros fatores e condições significativas para elaboração de propostas curriculares;
d) considerações que orientem a adaptação do currículo, priorizando capacitações, estabelecendo aprendizagens por área, estimando o grau de modificação do currículo;
e) proposta fundamentada sobre a escolarização do aluno;
f) opção expressa pelos pais ou representantes legais.
Partindo da avaliação psicopedagógica e das informações fornecidas pelos orientadores e pela família, o parecer pode incluir informações externas, de serviços especializados para alunos especiais.
Desse modo, observa-se que a avaliação psicopedagógica favorece a realização de ajustes necessários para que se aprenda a “aprender e ensinar melhor”, respeitando as diferenças individuais e promovendo aprendizagens mais significativas. Para isso, deve haver a colaboração e o envolvimento dos professores e de toda a estrutura da escola.
Ainda, conforme pondera Moraes (1999), a avaliação psicopedagógica deve partir do que a escola – cada escola concreta – exige do aluno com dificuldades de aprendizagem. Nesse sentido, a avaliação é considerada como um elemento essencial do planejamento curricular, posto que seus conteúdos são as dificuldades que se apresentam no processo concreto de ensino-aprendizagem.
Segundo Moraes (1999), a avaliação psicopedagógica das dificuldades de aprendizagem deve cumprir três objetivos fundamentais: descrever, explicar e prescrever – descrever do modo mais coerente e compreensível o que ocorre no processo de ensino-aprendizagem no qual surgem as dificuldades, para poder explicar como o aluno aprende e, em consequência, para propor um diagnóstico prescritivo que permita a elaboração de um plano de intervenção.
A descrição pormenorizada das variáveis e elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem somente se torna possível se as informações colhidas se mostram pertinentes. A descrição, portanto, é condição necessária, mas não suficiente para um bom processo de avaliação.
Disso se depreende que a Psicopedagogia contribui de forma mais efetiva quando formula e verifica hipóteses, relacionando e ordenando as informações de forma coerente e as explica para que a dificuldade de aprendizagem se torne compreensível e se esclareçam suas causas e consequências.
Para Moraes (1999), “explicar, na avaliação psicopedagógica, supõe, principalmente, ancorar a prescrição em informações factíveis, em um diagnóstico prescritivo que permita propor intervenções adequadas a uma solução”.
Ao final do processo, adverte Bossa que a avaliação psicopedagógica deverá proporcionar:
a) uma relação, cientificamente válida, das informações que permitam obter uma visão global, integradora, do que ocorre e de como interatuam as diversas variáveis, processos, estratégias e condutas.
b) uma explicação coerente e compreensível do que ocorre com o aluno, o professor e a família, da origem da dificuldade, de sua evolução, da situação na qual se encontra e como se relacionam e explicam suas características, além do prognóstico nos diferentes ambitos (pessoa, escolar, familiar e social).
Se as diferentes pessoas envolvidas não compreendem o problema, dificilmente se comprometerão de forma adequada em sua solução.
c) a efetivação, em colaboração com outros profissionais, de prescrições, ou seja, de um plano de intervenção psicoeducativa que possa propor soluções para a dificuldade de aprendizagem apresentada pelo aluno.

Conclusão
O estudo realizado levou à conclusão de que todo referencial consultado aponta para o fato de que as dificuldades na aprendizagem surgem da interação de múltiplos fatores, levando à consideração de que essas dificuldades dependem tanto das características e condições próprias de cada aluno como também das características do contexto educativo no qual se manifestam.
Esse novo enfoque implica também na conclusão de que as respostas tradicionais oferecidas aos alunos com dificuldades de aprendizagem desviam o foco de atenção do problema do aluno individualmente considerado para o contexto educativo, enfatizando que as decisões curriculares tomadas pelos docentes, as atividades de aprendizagem propostas, os métodos utilizados, as relações que se estabelecem entre professores e alunos influenciam na aprendizagem. Em consequência, consideram que a escola tem um papel determinante nos resultados da aprendizagem, posto que, dependendo da qualidade da resposta educativa que proporcione aos alunos, pode contribuir para superar, minimizar ou compensar as dificuldades de aprendizagem ou, contrariamente, agravá-las e mesmo criá-las, como produtos de um ensino inadequado.
A exploração das potencialidades de novos enfoques, que visam superar as limitações do enfoque tradicional para abordar as dificuldades dos alunos e evidenciar a interpretação dessas dificuldades a partir da forma pela qual se organizam os conteúdos e atividades e as condições criadas para estimular a participação e apoiar a aprendizagem amplia para todo o contexto educativo a responsabilidade pela introdução de mudanças necessárias, centrando a análise e os esforços no melhoramento dos processos de ensino e aprendizagem.
A contribuição da Psicopedagogia para esses novos enfoques evidencia o caráter interativo, que determina que as mudanças são relativas e mudam de acordo com o contexto em que se expressam e com os critérios com que são interpretadas e definidas.
Contribui, sobretudo, na compreensão de que as dificuldades que podem apresentar determinados alunos não são exatamente as mesmas em contextos diversos, mas adquirem uma dimensão e matizes distintos, em razão das respostas e das características de cada escola, de cada professor e de cada aluno.
Ainda, revela que as atitudes, expectativas, compreensão de todos os envolvidos – aluno, professor, família e sociedade – para com o processo de ensino e aprendizagem constituem um fator chave a ser considerado no desenvolvimento de uma avaliação e de um diagnóstico psicopedagógico que ofereça condições para a elaboração de intervenções eficientes.





BIBLIOGRAFIA


BOSSA, Nádia Aparecida. Dificuldades de aprendizagem: o que são? como tratá-las? Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

CRUZ, Vitor. Dificuldades de Aprendizagem: contributo para a sua compreensão. Revista de Educação Especial e Reabilitação, v. 6, n. 2, ago./2005, p.61-71.

FONSECA, Vítor da. Dificuldades de Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica do insucesso escolar. Lisboa: Âncora Editora, 2004.

KNAPP, Paulo; ROHDE, Luis Augusto; LYSZKOWSKI, Liseane; JOHANNPETTER, Juliana. Terapia Cognitivo-Comportamental no Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: manual do terapeuta. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

MONERO, Carlos (org.). O assessoramento psicopedagógico: uma perspectiva profissional e construtivista. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

MORAES, Antonio Manoel Pamplona. Distúrbios de Aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. São Paulo: Edicon, 1999.

MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1999.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento - um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993.

SMITH, Corinne ; STRICK, Lisa. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, 


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A Psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem




 A Psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem


RESUMO


Ao falar sobre a psicomotricidade na educação, logo imaginamos nas aulas de educação física, nas atividades recreativas envolvendo os movimentos, nos jogos e nas brincadeiras lúdicas e, assim pensamos que toda atividade psicomotora se baseia apenas nisso. No entanto, vários estudiosos e pesquisadores revelam a eficácia da psicomotricidade no processo ensino-aprendizagem. O desenvolvimento do esquema corporal, da estrutura espacial, da orientação temporal, a lateralidade e a pré-escrita são os elementos básicos fornecido pelo ensino psicomotor. O trabalho apresentado valoriza as atividades da psicomotricidade como auxílio no processo da aprendizagem, pois sem essa ajuda os alunos teriam sérias dificuldades na aquisição da leitura, da escrita, na socialização, na expressão e nos diversos outros aspectos do desenvolvimento.


Introdução

Segundo o site da Associação Brasileira de Psicomotricidade:

Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (ABP, 2011)

Atividades pedagógicas relacionadas com o movimento e a parte física do corpo, já fazem parte das disciplinas obrigatórias da educação básica e envolve a educação infantil, o ensino fundamental e até o ensino médio. Toda atividade física, além de melhorar o condicionamento corporal, educa a mente, melhora a saúde e desenvolve aptidões.
O trabalho realizado procurou demonstrar que a psicomotricidade, incorporada na disciplina de Educação Física ou no Movimento, vai muito além da educação com o corpo, da lateralidade, da estrutura espacial ou esquema corporal.
Costa (2002) afirma que:

A psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que inclui as interações cognitivas, sensoriomotoras e psíquicas na compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do movimento, em um contexto psicossocial. Ela se constitui por um conjunto de conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o intento de favorecer a integração deste sujeito consigo e com o mundo dos objetos e outros sujeitos. (COSTA, 2002, p. 38)

A psicomotricidade é capaz de desenvolver no aluno o psíquico, o equilíbrio, o emocional, a cognição, a afetividade, a socialização, a inteligência, as relações interpessoais e intrapessoais, a criatividade e diversas outras capacidades e habilidades.
A colaboração das atividades psicomotoras na educação é enriquecedora e contribui no processo ensino-aprendizagem em conjunto com as outras disciplinas e as variadas formas de ensinar e aprender.
O processo ensino-aprendizagem acontece de várias maneiras. Por meio da experiência, da exploração e observação que o estudante aprende, modifica seu pensamento, interpreta e busca soluções de problemas. O papel do adulto educador é favorecer e enriquecer as situações e os momentos para promover o aprendizado.
Para que isso ocorra, é importante ofertar conteúdos e atividades que envolvam: diferentes gêneros textuais orais e escritos; diversas linguagens e formas de expressão como: musical, plástica, verbal, gestual e dramática, a arte, o cinema, o teatro, a poesia, a literatura, a fotografia e diversos outros incentivos para a exploração do meio e o cultivo da curiosidade. Também é necessário conteúdos que envolvam os cálculos, raciocínio e a matemática, estudos geométricos, geográficos, a história, as ciências biológicas, o movimento e a educação física.
Diferentes pensadores e autores acreditam que quando há deficiência no desenvolvimento psicomotor, o aluno apresenta sérias dificuldades na fala, na expressão, na interpretação, na leitura, na escrita, nos cálculos matemáticos, no desenvolvimento crítico e criativo, no psíquico, afetivo e até no físico.
Para Vayer (1986), a educação da psicomotricidade também é uma ação pedagógica e psicológica, pois utiliza os meios da educação física com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento da criança. Dessa forma, os alunos se desenvolvem com muita mais eficiência e rapidez quando associado as atividades psicomotoras às demais disciplinas.
O trabalho foi baseado teoricamente nos pensadores:  Gonçalves (1983), Costa (2002), Vayer (1986), Cabral (2001), Wallon (1979), Jean Piaget (1982), Ferronato (2006), Dupré (1909), Le Boulch (1984), Costallat (2002), Fonseca (2008), Gonçalves (1983), Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998) e a Associação Brasileira de Psicomotricidade (2011).

Desenvolvimento

A Psicomotricidade surgiu na França, no final do século XIX e foi definida como uma ciência que atua na educação, na clínica e na reeducação. Nesse período foram realizados pesquisas e estudos voltados à área neurológica, focalizando as patologias corticais.
Nessa época podemos destacar o neurologista Dupré (1909) que denominou o desequilíbrio motor de “debilidade motora”. Já o médico psiquiatra Henri Wallon (1925) relacionou o movimento do corpo ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da criança. Edouard Guilmain (1930) cria o termo “reeducação psocomotora”. J. Ajuriaguerra e R. Diatkine (1947) redefinem o conceito de “debilidade motora” para uma “síndrome”. Apenas no ano de 1970 com os psicomotricista André Lapierre e Bernard Auconturier será definida como a “Psicomotricidade Relacional”.
Nesse momento, as teorias de Jean Piaget (1982) e as ideias psicomotoras de diferentes autores, liderado por Wallon (1925), que valorizava o esquema corporal, vão influenciar e repensar o significado da educação psicomotora. A ideia do desenvolvimento global da criança passa a ter predominância. Nesse período então, os psicomotricistas iniciam sua pratica, buscando relações com as instituições escolares.
Segundo Cabral (2001), no Brasil a partir da década de 1950 a psicomotricidade tem sido tema de estudos e de pesquisa e foi introduzida nas escolas especiais como apoio e instrumento para corrigir as dificuldades psicomotoras das crianças com deficiência.
Ainda de acordo com Cabral, foi na década de 1970 que na França, como também no Brasil, a psicomotricidade passa da “perspectiva de reeducação psicomotora” para uma “educação psicomotora”, pensando no indivíduo não parcialmente, mas em sua totalidade.
Ferronato (2006) afirma que:

A psicomotricidade é fundamental para as aprendizagens escolares, uma vez que se configura em um suporte para alcançar aprendizagens mais elaboradas no plano cognitivo e no processo de alfabetização. O seu conhecimento auxilia e capacita o aluno para uma melhor assimilação das aprendizagens escolares. (FERRONATO, 2006, p. 12).


A Psicomotricidade como área do conhecimento do corpo em movimento, é de fundamental importância para desenvolver o ser humano em sua totalidade e contribuir nas expressões cognitivas, intelectuais, psíquicas, afetivas e emocionais.
Toda atividade que envolve a psicomotricidade proporciona ao participante prazer em manipular os objetos, bem-estar, interatividade, cooperação, autoestima, criatividade e contentamento.
Le Boulch (1984) acreditava que a educação psicomotora deveria ser considerada como uma educação de base na escola e ponto de partida de todas as aprendizagens pré-escolares.
Costallat (2002) afirma que:

O trabalho psicomotor privilegia o ato físico, mas leva-o ao trabalho mental, no qual se aprende a escutar, interpretar, imaginar, organizar, representar, passar da ideia ao ato, do abstrato ao concreto, bases imprescindíveis da aprendizagem formal. (COSTALLAT, 2002, p. 40)

A psicomotricidade possibilita aos estudantes uma infinidade de vivências concretas. Quando falta aos estudantes o desenvolvimento motor, ou quando não é bem trabalhado no ensino escolar, poderá apresentar no futuro, problemas na escrita, na gramática, na leitura, na ordenação de sílabas, na distinção de letras e até no pensamento abstrato.
As atividades desenvolvidas na psicomotricidade oportuniza nos estudantes condições de desenvolver capacidades básicas relacionado ao intelecto, motor, cognitivo, afetivo, social e emocional.
As experiências vivenciadas por meio dos jogos e das brincadeiras voltadas ao esquema corporal, de lateralidade, estrutura espacial e orientação temporal reforçam a maturação orgânica progressiva e capacita os alunos a se desenvolverem integralmente em todos os seus aspectos.
De acordo com Fonseca (1998), Wallon afirma que:

[...] o movimento não é um puro deslocamento no espaço nem uma adição pura e simples de contradições musculares: o movimento tem um significado de relação e de interação afetiva com o mundo exterior, pois é a expressão material, concreta e corporal de uma dialética e subjetivo-afetivo que projeta a criança no contexto da sociogênese (FONSECA, 2008, p. 17).

Essa “relação e interação com o mundo exterior” pelas atividades psicomotoras possibilita as diferentes aprendizagens, pois, “ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais” (RCNEI, 1998, p.15).
Segundo Gonçalves (1983),

O movimento, na sua ação, manifesta a sua exteriorização significativa dos desejos e das aquisições do indivíduo, pois traduz o corpo vivido, o conhecimento concreto experimentado pelo sujeito. A originalidade peculiar do movimento não o caracteriza como mecanismo psíquico ou filosófico, como consciente ou inconsciente; ele traduz e projeta no mundo a ação relativa a um sujeito (GONÇALVES, 1983, p. 27).


Para Gonçalves o movimento demonstra tudo aquilo que o aluno carrega consigo, suas aspirações mais profundas, desejos, vontades, sonhos, frustrações, medos, traumas, complexos, realizações. Mas também através do movimento o sujeito é capaz de compreender o mundo, seus ensinamentos, suas aprendizagens para dentro de si e por meio desse processo ser capaz de aprender, compreender, desenvolver-se, ter habilidades e competências necessárias para atuar na sociedade e no mundo ao seu redor.
Gonçalves (1983) também afirma que,

É Por meio da atividade motora que a criança vai construindo um mundo mental cada vez mais complexo, não apenas em conteúdo, mas também em estrutura. O mundo mental da criança, devido às ações e interações com o mundo natural e social, acaba por apresentar essas realidades por meio de sensações e imagens dentro de seu corpo e de seu cérebro. Primeiro por intervenção de outras pessoas, que atuam como mediadoras entre as crianças e o mundo; depois pelos sucessos e insucessos da sua ação, ela vai adquirindo experiências que virão a ser determinantes no seu desenvolvimento psicológico futuro (GONÇALVES, 1983, p. 27).

Dessa forma, toda atividade psicomotora, quando bem trabalhada com as crianças promove a aprendizagem. O educador, como mediador, com seu trabalho, esforço e empenho facilita o processo ensino-aprendizagem pelo movimento. Atividades bem elaboradas com objetivos, metodologias e uma boa didática possibilita um aprender e ensinar com criatividade, dinamismo, participação, recreação e principalmente com alegria e entusiasmo tanto da parte dos alunos quanto dos educadores.
A psicomotricidade na educação básica favorece integralmente o processo de ensino-aprendizagem do aluno em sua totalidade. A contribuição do movimento vai mundo além do corpo, como já verificamos. Colabora no desenvolvimento do psíquico, do intelecto, no afetivo, no social, na desenvoltura do corpo (na sua lateralidade, orientação corporal e estrutura espacial). Os estudantes dificilmente apresentarão dificuldades na alfabetização, na escrita, na leitura, nos cálculos matemáticos e nas demais aprendizagens.


Conclusão

O trabalho apresentado valorizou o ensino do movimento como forma de favorecimento ao processo ensino-aprendizagem. O ato de aprender e se desenvolver intelectualmente envolve a maturação, aquilo que a criança já tem aprendido e também os ensinamentos proporcionados pelo meio.
Este último envolve os conhecimentos da linguagem e da escrita, das ciências, da geografia, da natureza e sociedade, da história, da matemática, das artes, da música, do teatro, do cinema e muitos outros conhecimentos oferecidos pelo ensino regular. Pela educação física ou o movimento, é oferecido aos alunos a psicomotricidade e mais do que a educação do corpo é o ensino total e completo do indivíduo.
Sem a formação do movimento a criança não é capaz de adquirir os demais ensinamentos. Apresentará dificuldades motoras, na fala, na dicção, na interpretação, na leitura, nos cálculos matemáticos, na interação com o outro, até mesmo na socialização com o meio em que vive. Essas lacunas acarretará problemas psíquicos, na autoestima, na sua intelectualidade e no convívio social.
Sabemos que hoje os educadores preocupados em fazer as crianças lerem e escreverem o quanto antes, acabam deixando de lado as atividades como pular, correr, saltar, jogos e brincadeiras que envolvem superações corporais e aptidões físicas. E infelizmente acabam errando, pois sem compreenderem a importância do desenvolvimento psicomotor impedem que os alunos se desenvolvam com mais rapidez pelas atividades motoras.
O trabalho de conclusão de curso, com a utilização bibliográfica de alguns autores e pensadores procurou manifestar a importância da psicomotricidade na educação básica e na formação integral das crianças.



           
REFERÊNCIAS


BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998.

CABRAL, Suzana V. Psicomotricidade Relacional: Prática Clínica e Escolar. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.

CAMPOS, Aline Mara Araújo Dias. A importância da Psicomotricidade para Educação Infantil. Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/48643/a-importancia-da-psicomotricidade-para-educacao-infantil. Acesso em 20 de fevereiro de 2017.

COSTA, A. C. Psicopedagogia e Psicomotricidade: Pontos de Intersecção nas dificuldades de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2002.

COSTALLAT, D. M. M. A Psicomotricidade otimizando as relações humanas. São Paulo: Arte e Ciência, 2002.

FERRONATTO, Sônia Regina Brizolla. Psicomotricidade e Formação de Professores: uma proposta de atuação. Trabalho apresentado como monografia ao Programa de Pós-Graduação em Educação na área de Ensino Superior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2006.

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

GONÇALVES, Fátima. Do andar ao escrever: um caminho psicomotor. São Paulo: Cultural RBL Ltda, 1983.

LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor do nascimento até 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.

SBP. Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. Disponível em: https://<www.psicomotricidade.com.br> Acesso em 03 de fevereiro de 2017.

VAYER, P. O equilíbrio corporal – uma abordagem dinâmica dos problemas da atitude e do comportamento. Tradução de Maria Aparecida Pabst. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

WALLON, H. Do ato ao pensamento – ensaio de psicologia comparada. Tradução de J. Seabra Dinis. Lisboa: Morais Editoras, 1979.